segunda-feira, 7 de março de 2011

ENTREVISTA: OSVALDO MIL

Hoje apresentamos um breve bate-papo com alguém muito especial em nossa região, alguém que bebeu do leite artístico da mãe Itabuna e cresceu forte espalhando nossa beleza e nosso nome.
Dos estúdios de rádio, das telinhas, das telonas e do palco…
Com vocês:
FOTO MONTENEGRO E RAMAN 3
OSVALDO MIL

Osvaldo Mil é fruto de um grupo teatral escolar. Em Itabuna, Bahia.
Estreou em 1979 e durante 6 anos participou do GETEAFI, o grupo de teatro da escola.
Em 1985, uma nova alternativa. Começou a trabalhar como locutor animador de rádio FM. Chega em Salvador em 1989 como locutor da Salvador FM.
Em 1990 participa do Curso Livre de Teatro da UFBA.
A partir de 1991, passa a apresentar eventos e shows.
Em 1994, Osvaldo Mil ganha o Prêmio Copene de Teatro como melhor ator por seus trabalhos em ‘Os Cafajestes’ e ‘Castro Alves’, onde interpretava o poeta romântico Fagundes Varela. Foi também o Amado Ribeiro, no ‘Beijo no Asfalto’, foi Lucas Dantas em ‘A Conspiração dos Alfaiates’, Vadinho em ‘Dona Flor e Seus Dois Maridos’. O espetáculo ‘ Os Cafajestes’, ficou seis anos em cartaz, com sucesso em diversos Estados do país, sendo o vencedor do Prêmio Sharp de 1995, como Melhor Espetáculo Musical. Em março de 2004 em Salvador, encena ‘Prólogo’, monólogo de sua autoria. Em 2008 dividiu o palco com Alline Moraes na sua estréia no teatro. No momento está em cartaz com o musical ‘Eu Te Amo Mesmo Assim’.
No cinema, estréia no curta ‘O Pai do Rock’. É Seu Neco em ‘A Máquina’ de João Falcão. Em ‘Cinemas, Aspirinas e Urubus’, vive um jovem coronel nordestino no período da Segunda Guerra. No ‘Por 30 Dinheiros’, é um Cristo de circo mambembe fugindo pelo sertão; no curta ‘A Última do Amigo da Onça’ é Péricles, o desenhista. Foi o irmão José, no sucesso ‘Chico Xavier’. Está nos inéditos ‘Pau Brasil’ e ‘O Inventor de Sonhos’.
Em 2004, produziu e levou ao ar na Metrópole FM, em Salvador, o Projeto Rádio Ativa, onde tocava músicas brasileiras de épocas diversas; desde o vozeirão de Francisco Alves ao som batido do Cordel do Fogo Encantado. Com muita informação e bom humor.
No vídeo participou de programas da Rede Globo, com destaque para o quadro ‘Operação Bola de Cristal’ do programa Fantástico onde se passou por vidente para uma platéia de 40 pessoas. Era Ângelo, um paranormal. Todos acreditaram. Destaque também para as novelas ‘Caras e Bocas’, ‘Desejo Proibido’, a minissérie ‘Amazônia’. Está na segunda temporada de ‘Os Filhos do Carnaval’ da HBO.

 ENTREVISTA
 
AI – Você antes de ser ator foi locutor de rádio FM, neste momento o ator já existia em você.
OM - Na verdade a locução de rádio foi que veio a reboque do ator. Eu fazia teatro no GETEAFI (grupo de teatro estudantil da AFI, sob direção de Leninha Pitta) e por causa disto me chamaram para apresentar o 1° Festival de Música Estudantil de Itabuna no Ginásio de Esportes. Era a época que a Musical FM estava deixando de lado a locução gravada vinda de São Paulo, para fazer locução ao vivo, direto do alto do Pontalzinho. Mário Tito, que já era radialista e que fazia parte do quadro da rádio, sugeriu meu nome depois de assistir à apresentação do Festival. Assim estreei no rádio. Mas o ator estava sempre presente no locutor. Não dá pra dissociar uma coisa da outra. Depois que fui pra capital, trabalhando na Salvador FM, o ator ficou ainda mais evidente, pois fazia vozes diferentes, criei personagens e conversava com eles durante os programas. Teatralizava a locução.
BOLA DE CRISTAL 3 cópia
AI – O que você aprendeu profissionalmente em Itabuna que carrega contigo?
OM - Itabuna me formou, apresentou-me a duas atividades que ajudaram a me formar como pessoa e como cidadão e que acredito devem ser oferecidas a todos: arte e esporte.
Aos 13 anos comecei a prática do esporte estudantil, aos 15 anos estava na seleção baiana de handebol, engalanado num uniforme azul em Curitiba, no Campeonato Estudantil Brasileiro. Emocionado, vendo que eu era um pouco de todos os itabunenses. Lembro desta sensação. Dois anos depois fui pra outro Brasileiro pela seleção baiana. Até hoje sou um desportista, e quero qualquer hora dessas fazer uma corrida Itabuna-Ilhéus. Aviso quando for acontecer e convidarei a todos para que me acompanhe. Quem topa?
Aos 14 anos, em 1979, estava estreando Nas Garras do Mundo Gigante, no auditório da AFI. Fui o protagonista desta peça e de algumas outras do grupo. Fiz com ele mais de uma dezena de peças. Hoje ganho dinheiro com o dom que Itabuna me ajudou a descobrir e despertar. Pelo que sei sou o único dos que passaram pelo GETEAFI que profissionalizou como ator.
Como dá pra perceber sou fruto da escola. As atividades que me formaram me foram oferecidas pela escola. A indústria da educação era menor antes e a intenção maior era formar pessoas, não a aprovação no vestibular. Quando vejo a negligência e falta de interesse e sensibilidade dos que tem a função de formar nossos brasileiros, me preocupa e me causa agonia. É como se todos estivessem indos confiantes e seguros para o caminho do tropeço.
AI – Os campos de atuação do ator são vários, mas no Brasil a televisão é o grande palco?
OM - O Grande Palco será sempre o Teatro. Na TV há uma visibilidade muito maior e dá a impressão de que é o suprassumo da arte da interpretação. O ator de TV ganha notoriedade, mas não é isso que faz um ator.
AI - Hoje você atua na TV, no teatro, no cinema, mas sem a televisão você seria menos ou mais conhecido?
OM - Seria menos conhecido. A TV me mostra no Acre. Pingo Grapiúna me mandou e-mail dia desses falando que acompanha alguns trabalhos meus em Portugal. Na TV e no Cinema o ator não precisa estar presente pra que sua arte seja assistida. No Teatro é diferente: se ele não está, a peça não será encenada. Mas não sou tão conhecido assim.
AI – O que você, vendo distante, falaria para que a cena artística grapiúna tivesse uma melhora?
OM - Antes de tudo, devem pensar que não são uns mais importantes que os outros. Todos são importantes, ao mesmo passo que são desimportantes. Sempre digo que quem pode se achar o máximo e superior aos outros é Chico Anysio, porque considero que realmente seja. Sopa de humildade faz bem pra todo mundo e se queremos crer que somos superiores, já estamos abaixo dos que consideramos abaixo. O artista tem que ser muito bom e ter constuído uma obra muito significativa pra que possa pleitear uma cadeira na nobreza. Sufoquemos os excessos do nosso ego. O resíduo intestinal é igual em todos. Partindo deste ponto, vamos acrescentar outros.
Apesar da obrigação que tem, não podemos ficar esperando que o poder público resolva questões relacionadas à cultura, pois pra grande maioria dos administradores, essas questões não causam interesse. Administradores leem poemas? Emocionam-se com filmes? Conseguem apreciar um por do sol? O antigo presidente não lê livros, pois lhe dá azia. Não esperemos destes caras que questões relacionadas a evolução humana lhes causem interesse. Por vezes até tentam resolver o problema colocando em cargos relevantes da pasta cultural, artistas que conquistaram prestígio em decorrência do trabalho artístico efetuado. Mas aí a questão do ego, acima citado, pode ser muito nociva, se estas pessoas acreditam que o status do posto é superior à obrigação que tem. Precisam entender que trabalham para a comunidade e para o incentivo e divulgação dos artístas locais, não para o privilégio de si e dos seus. Mas apesar das dificuldades não podemos nos furtar o direito e a obrigação de cobrar dos ocupantes do poder, o que merecemos.
A iniciativa privada que poderia ser uma grande parceira nesta causa, não percebeu a importância da vinculação do seu nome às causas relacionadas à cultura. Ainda mais se o artísta é local. Esta é uma porta que acredito deve ser forçada. A adesão da iniciativa privada aos projetos culturais. Convencer-lhes da importância dessa parceria. Aliar a sua marca a um bom produto cultural.
Aos artistas, sugiro intervenções na rua para despertar nas pessoas a possibilidade de portas de fuga pro quadradismo dos dias. Imagino uma trupe de atores descendo a Cinquentenário. Encenando esquetes na Praça Adami, aquecendo o interesse das pessoas. Possibilitando pensamentos posteriores dos que assistiram à intervenção. A cidade poderia ser inundada por uma necessidade de arte em maior número. É preciso aquecer a demanda. É como se Itabuna estivesse em tom pastel. Estas pitadas de arte lhes dariam respingos coloridos que com o passar do tempo, aumentando e proliferando, a cidade será novamente colorida como em outros tempos.
Itabuna precisa de novo, inventar a roda.
AI – Algo que gostaria de responder e que não perguntei?
OM - Gostaria de falar que o mundo precisa de boas iniciativas. De pessoas que façam, que desafiem, que tenham coragem. O pequeno trabalho construído na sua tribo pode ter repercussões enormes e pequenas boas ações isoladas podem, aos poucos criar um mundo mais bacana, com pessoas que sabem que não se joga lixo no chão, que o lixo pode ser reciclado, que podemos ouvir Calcinha Preta, mas não podemos desconhecer a riqueza de Jackson do Pandeiro. Que não se pode sair cortando árvores com a fúria dos desbravadores, que o carro deve parar para que o pedestre passe, que o motorista deve usar a seta para indicar para qual lado vai fazer a curva. Que o volume do som dos carros seja em uma altura educada, pois nem todos gostam, nem querem ouvir a música que você ouve. Pra se fazer um mundo mais legal e respeitável, podemos começar através de pequenas coisas. Não precisa subir o Everest. É fácil, tá ali. Precisa de boa vontade. Eduque sua tribo agora, em breve terás uma tribo educada.
A Boa Pessoa não pode fugir da sua obrigação política. Pequenas ações isoladas podem resolver muitos problemas, mas se tiverem o apoio dos órgãos públicos a sua eficiência será mais ampla e será sentida muito mais rapidamente. Então conclamo: Pessoa do Bem, pleitei cargos políticos. Se candidate. Se eleja. O poder pode corromper, mas também pode socorrer. Fujamos do mal da omissão. Assumamos a Boa Missão.
AI – Osvaldinho Mil está aprontando o quê para nós?
OM - Estou reestreando uma peça em que estou em cartaz há um ano; Eu Te Amo Mesmo Assim. Um musical. Eu a atriz Laila Garin cantamos músicas de amor que vão de Cartola a Sidney Magal, de Chico Buarque a José Augusto. Roberto Carlos, Kid Abelha, Chitãozinho e Xororó. E entre as músicas, na parte teatral do espetáculo, damos dicas de como conquistar um amor, como conservá-lo e como se livrar dele se ele é indígno. O texto é uma adaptação do livro A Arte de Amar, escrito há mais de dois mil anos por Ovídio e que apesar de tão antigo, é extremamente contemporâneo. As dicas que serviam pra antes, ainda servem. Digitando o nome da peça, dá pra ver três músicas no youtube. Penso em coisas pra Itabuna. Tomara que consiga fazer.
Axé!
http://www.youtube.com/watch?v=ueKz7Av-cQ0
http://www.youtube.com/watch?v=FXE1CzkxUxI
http://www.youtube.com/watch?v=clcpn_5cFbU

Que bom que ainda temos pessoas generosas que entenderam o nosso propósito.
Agradecemos e reverenciamos o grande OSVALDO MIL.

2 comentários:

Anônimo disse...

GRANDE AMIGO QUE NÃO VEJO A MAIS DE 20 ANOS, FIZ PARTE DO GETEAFI, ELE ERA A ESTRELA EU ERA COADJUVANTE, FOMOS CONVOCADOS PARA SELEÇÃO BAIANA JUNTOS, ELE FOI, MEU PAI NÃO DEIXOU EU IR...INTERESSANTE....ELE SE ATIROU MAIS ÀS SUAS OPORTUNIDADES, SINTO SAUDADES, TIVEMOS A ESSÊNCIA DA AMIZADE ADOLESCENTE, AQUELA QUE NUNCA ACABA,MESMO SE OS ANOS PASSAM...PODE TER CERTEZA...UM DIA TE ENCONTRO MEU AMIGO.

MARCO ANTONIO PITONDO, BERNARDO SAYÃO/TO 20/04/2011

Anônimo disse...

Muito bem meu grande amigo!!! Com muita segurança e clareza vc fez uma panorânica da nossa cultura regional...
Estamos aguardando vc e Jackson Costa ( que já se colocou a disposição)como " reforço" para alguns projetos que temos para essa nossa querida Itabuna Centenária tão ávida por políticas públicas culturais para que com muito prazer possamos voltar a "fervilhar" o que começamos juntos na década de 80!
Uma dia retornaremos a felidade!!
Bjs e muita Luz.
Eva Lima atriz