sábado, 21 de maio de 2011

ENTREVISTA: WENDEL DAMASCENO

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WENDEL DAMASCENO

Menino criado no Jardim Primavera, que junto aos amigos, fazia das árvores da praçinha da Rua 2 de navio pirata,  tendo a ludicidade e a fantasia aguçadas por seus avós maternos, Seu João Damasceno e Dona Joselita, que lhe contavam muitas histórias.  Filho de Enivaldo e Emilia e irmão de Raphael começou sua carreira em 1994 em Itabuna, através de uma oficina teatral intitulada “Preparação do Ator” da Fundação Cultural do Estado da Bahia. Trabalhou com o diretor Pedro Mattos, através do Grupo de Teatro Vozes, nos espetáculos “Hoje não Faço Nada”, “Alvorada Grapiúna” e dentre outros, com diretor Échio Reis nas duas memoráveis apresentações da “Paixão de Cristo” no estádio Itabunão, com diretor Marquinhos Nô ajudou a criar o TEG - Teatro de Experiência Grapiúna, ao lado de Iêda Lima, Alex Francis, Vicente Barreiras e Mario Magalhães, o grupo realizou o irreverente espetáculo “O Culto” tendo na direção musical Jaffet Ornellas, e depois “As Lavadeiras”, espetáculo apresentado nas escolas da cidade, também fez parte do Grupo de Teatro da Direc 07, projeto de Arte-Educação coordenado pela grande educadora Rita Veloso, em espetáculos como Cinderela e Sonho de Uma Noite Verão, ambos dirigidos por Ângelo Oliveira. Morando em Salvador há uma década, fez parte de espetáculos como “Aerotrope” dirigido por Hebe Alves, “Dez Maneiras de Morrer” com direção de Elisa Mendes e Júlio César Ramalho, do musical “Anacleto – O Porquinho Politicamente Correto” direção de Paolo Ferreira, “A Professora” direção de Bruno Bozetti, e no destacado “Uma Farsa Áspera”, espetáculo de graduação do diretor Tonny Ferreira na UFBA, que foi recorde de oito indicações no Festival Nacional Ipitanga de Teatro - 2008 em Lauro de Freitas - BA. Ainda nesse mesmo ano foi um dos premiados da II Mostra Grapiúna de Monólogos em Itabuna.  Licenciado em Teatro pela UFBA, integrante da Cia. Beluna de Arte, grupo formado por colegas que estudaram com ele na faculdade, de alguns anos pra cá sempre vem participando de Oficinas e Workshops dentre eles com os diretores teatrais Harildo Deda, Fernando Guerreiro e Marcio Meirelles, e os diretores de telenovelas Edson Erdmann (Rede Globo) e Hamsa Wood (Rede Record), e com a cineasta Paula Gomes. Em 2010 atuou e foi produtor executivo I Festival Ilusório de Peças Curtas no ICBA – Instituto Cultural Brasil-Alemanha, evento esse realizado pela Ilusória Cia. de Teatro. Atualmente vem se destacando na publicidade baiana, e começando a investir em outra paixão, o cinema. 
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Suaves Reticências, direção Hayaldo Copque, Festival Ilusório de Peças Curtas, 2010.

AI – Você nasceu em Itabuna, mas a sua arte nasceu aqui também ou você a encontrou em outras paragens?
WD - Sim, nascido e criado. E a minha arte brotou aí, e acredito inicialmente enquanto espectador adorava assistir os espetáculos infantis que iam se apresentar na Escola Pio XII, onde estudei na minha infância e fiz algumas pequenas apresentações, frequentei muito o Cine-Teatro Amélia Amado, conhecido historicamente como TEI – Teatro Estudantil de Itabuna, e também o Cine-Itabuna, como consta aí na cidade ambos infelizmente não existem mais, possa se dizer que eram patrimônios culturais da cidade, que foram extintos por falta de uma política cultural séria no município. Mas de fato foi no meado da adolescência que começei dá as caras numa gicana, promovida pelo Grupele, que era um grupo de jovens da Paróquia Senhor do Bomfim no Jardim Primavera, bairro onde cresci, num dos dias do evento, tive que as pressas substituir um dos integrantes da minha equipe, que não apareceu pra peça que valia pontos, então uma amiga figuraça que mora já um bom tempo na Alemanha, a Elisângela,  me conveceu a fazer o personagem, entrei mudo e saí calado pois a peça tinha um narrador, foi muito engraçado, meus amigos olhando pra mim eu ali de sunga interpretando Adão. Já nas outras semanas do evento, continuei fazendo as peças da minha equipe, tendo ganho na gincana o certificado de ator revelação que guardo até hoje com muito carinho. Um ano depois, após mais uma gincana novamente, amigos me recomendaram um curso de teatro, então fui procurar um conhecido do meu pai, o grande militante cultural Walmir do Carmo, disse pra ele que já era ator e que queria fazer teatro. Imagine?  Ele me deu um bom puxão de orelha, e me recomendou que procura-se uma oficina de teatro pela Fundação Cultural do Estado que iria acontecer no Centro de Cultura. E lá fui eu tomar aulas com diretor Marcos Cristiano, o ator Carlos Betão e a coreográfa Marta Bezerra, o resultado originou a peça “A Brincadeira”, a partir daí não parei mais, de 1994 até 1998 trabalhei em muitos espetáculos em Itabuna, e em 1999 ingressei no curso de Licenciatura em Teatro na UFBA no qual sou graduado, e estou aqui em Salvador vivendo da minha arte enquanto ator, professor de teatro e produtor, e estou agora realizando minha primeira direção teatral a convite dos Artistocratas – Grupo de Teatro, grupo formado por alunos da Escola de Teatro da UFBA, que tem como lema, “A arte no poder e o povo na arte”.

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Paixão de Cristo, direção Échio Reis, 1995.
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O Culto, direção Marquinhos Nô, 1995 – 1996.

AI – O que falta para Itabuna firmar-se como um grande polo artístico na Bahia?
WD - Historicamente já somos, é só olhar para trás e vermos o quanto de registro nós temos, de gente que iniciou sua arte aí e continuam produzindo, mesmo com todas as dificuldades num país onde ainda a arte não é tratada como prioridade. A nossa história tem que ser catálogada para as futuras gerações, esse é o primeiro passo na consolidação cultural de uma localidade, é sermos referências, é criar uma rotatividade artística que sensibilize a sociedade, não só no intuito de gerar novos artistas, mais numa sociedade local que perceba que  as artes estão no mesmo patamar das demais necessidades de um povo. E nesse caso somos nós artistas que temos que abraçar essa responsabilidade, de criar parcerias com diversos seguimentos da sociedade. De valorizar o nosso regionalismo, tornando-o universal quebrando as barreiras geográficas, e isso é fato comprovado em lugares que tiveram esse protagonismo. E ainda por cima entrelaçar arte com edução, sendo trabalhada nas escolas e centros sociais. A consolidação de um polo artístico também perpassa por uma política cultural democrátrica séria no município, vigiada pelos artistas, pois somos nós que sabemos das reais dificuldades do nosso trabalho. Uma cidade do porte de Itabuna, já deveria ter exclusivamente uma Secretaria Municipal de Cultura, de uma verba destinada anualmente, com total transparência, exemplificando o quanto vai pra cada seguimento artístico e demais manifestações culturais, e de leis municipais que ajudem no desenvolvimento cultural da cidade.
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            Set de filmagem do longa-metragem, A Coleção Invisível.                 
Wendel Damasceno, Vladimir Brichta e o diretor Bernard Attal.
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Gravação do longa-metragem, A Coleção Invisível, direção Bernard Attal, 2011.
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Gravação do longa-metragem, A Coleção Invisível, direção Bernard Attal, 2011.


AI – Além de você, sabemos de vários outros artistas que saíram daqui para brilhar em palcos soteropolitanos e brasileiros. Qual o retorno que a cidade poderia ter com este sucesso individual?
WD - No meu caso tenho projetos tanto para cidade como pra região. A Cia. Beluna de Arte, grupo do qual faço parte, desenvolve oficinas artísticas no campo do teatro como: iniciação teatral, iluminação, maquiagem, figurino e etc, voltados principalmente as pessoas de baixa renda. Há dois anos já fazemos esse projeto em teatros e centros culturais daqui de Salvador, o nosso objetivo agora é levarmos o projeto pra o interior do Estado, e Itabuna está em nossos planos. 

AI – Olhando de longe: O quanto a cena artística itabunense precisa melhorar?
WD - Seja em Itabuna ou qualquer outro lugar, a melhora em princípio vem da excelência profissional. E isso quer dizer estudo, o artista seja qual for o seu campo de trabalho tem que está atento, novas coisas aparecem, se reciclar é benéfico. Trabalhar com arte é estudo constante, não pode ficar estacionado parado no tempo, bradando pelos ares que é artista. O verdadeiro artista tem que ter a humildade o bastante para dizer “quero aprender”, isso não é subserviência é nobreza. Ao qualificar seu trabalho o público o vê com outros olhos  valorizando-o. 

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Set de filmagem do curta-metragem, Instinto, 2011.                             
O diretor André Nogueira com os atores Alex Barreto e Wendel Damasceno.
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Gravação do curta-metragem, Instinto, direção André Nogueira, 2011.
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Gravação do curta-metragem, Instinto, direção André Nogueira, 2011.
AI – Quais as saídas para o artista ter mais campo de trabalho e ser mais atuante na sociedade?
WD - Além de ser o senhor do seu negócio, as saídas é está atento as leis e editais que se aplicam no âmbito municipal (caso exista), estadual e federal. É batalhar por novos espaços culturais e na conservação dos existentes. Veja o exemplo do Teatro Popular de Ilhéus, que transformou a Casa dos Artistas num ambiente de total produção artística em diversos seguimentos, tornando o espaço um Ponto de Cultura com financiamento público, além disso o grupo vem representando a nossa região aqui na Capital e no Brasil afora, através de editais em que foram aprovados. Outro exemplo foi quando recentemente estive na região no mês de janeiro, para participar do FECIBA – 1º Festival de Cinema Baiano, em Ilhéus, também aprovado num edital através do Fundo de Cultura do Estado, produção local realizada pelo Núcleo de Produções Artísticas e a Panorâmica Produções, evento esse que não ficou faltando em nada. Nestes dois casos é perceptível o trabalho em equipe, a união, é o que falta  muitas vezes na classe artística da região. Para eles serem aprovados, acredito que foi muito estudo e análise de como seus projetos poderiam se encaixar nas propostas dos editais, que ainda por cima são bastante burocráticos.  

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Uma Farsa Áspera, direção de Tonny Ferreira, elenco Paulo Paiva e Wendel Damasceno, Escola de Teatro da UFBA, 2008.

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Premiado na II Mostra Grapiúna de Monólogos, 2008.


AI – Qual pergunta gostaria de responder e eu não fiz?
WD - Fica para uma próxima entrevista rs rs rs.
AI – Agradecimentos.
WD - Parabéns ao blog por essa iniciativa, acredito que os demais artistas como eu estamos felizes por sermos lembrados, de fazermos parte da história artística de Itabuna e região. Aos amigos de palco daí com quem dividir momentos fantásticos e que tanto tenho admiração. A minha família maravilhosa, por ser tão presente na minha vida e por respeitar o meu ofício. Muito obrigado ao blog, abaixo estão mais registros dos meus trabalhos. Beijão e muita fé a todos.


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VT Publicitário – SETPS / Prefeitura de Salvador, 2011.

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Cinderela, direção Ângelo Oliveira, coordenação pedagógica Rita Veloso, 1997.
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Brasil 500 anos, a coreógrafa Cristina Castro, Wendel Damasceno e a diretora Elisa Mendes, 2000.

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Set de filmagem do longa-metragem, A Coleção Invisível, o assistente de direção Von Gabriel e o ator Wendel Damasceno, 2011.

4 comentários:

Rita Santana disse...

Adorei a entrevista, Wendel. Você é gentil, especial e talentoso. Adorei ver os seus trabalhos tantos, as fotos, e o discurso de quem está na área. Beijos! Parabéns ao blog.

CIDADÃO SHOW disse...

Itabuna sempre revelando novos artistas. Parabéns ao blog por essa grande entrevista com esse jovem talento.
Abraços.
CIDADÃO SHOW

THAMIRES OLIVEIRA disse...

Parabéns Wendel, que você continue assim com muito sucesso. Muito lindo seu trabalho, que DEUS continue te abençoando.
E parabéns tbm ao blog por reconhecer esses talentos! bjs

180801 disse...

Gente menino lindo te amo muito fico orgulhosa de ti... o destino me levou para tao longe... mas isso faz com que minha Fé em Deus aumente sempre mais pois sei que Ele é essa energia que nos faz esta perto apesar da distância fisica mas essa energia e essa sua luz que transmite nas palavras e no seu trabalho chega até aqui... Parabéns amigo!!!
Te amo muito!
Eli