quinta-feira, 14 de julho de 2011

CONSIDERAÇÕES - Por Theo Fagundes.

Sobre a Música: considerações iniciais (sobre o "bom" e o "mau" gosto) ...


Há alguns meses lendo, pensando, pesquisando e repensando sobre o tema, precisava organizar as considerações resultantes desse processo inquietante. Sendo assim, sigamos em frente, porém _por hora_ detendo-se à questão do “bom ou mau gosto” concernente à Música.
Será mesmo que essa não passa de mais uma “questão subjetiva”, do tipo defendido pelos que afirmam: “o que é bom gosto pra você, pode não ser pra mim”, ou vice-versa? Será que devo mesmo, a partir disto, elencar alguns Ícones das últimas três gerações _por exemplo_ juntamente a algumas produções “musicais” da contemporaneidade? Penso que não... digo que não...clamo que jamais...
Quando me deparo com alguma questão aparentemente problemática, ajo conforme aprendi com a tradição grega do ocidente: perscrutar tal questão até o seu princípio, e a partir disto reconstruí-la. Então, voltemos à Música com um olhar “panorâmico”, e percebamos o caminho que a mesma percorre na História das Civilizações.
Não pretendo reescrever a História da Música; e nem mesmo defender um “estilo” em detrimento de outro. Em tempos e épocas diferentes; entre tribos e nações que nunca tomaram conhecimento uma da outra; e em qualquer dimensão humana que tenha passado por esse nosso chão, a Música, sempre, esteve entre as manifestações mais sublimes, significativas, relevantes de cada povo. Em suas cerimônias e rituais mais importantes; nas celebrações de maior êxtase...enfim... uma forma de expressão da interioridade, uma manifestação de valores, princípios, expectativas; e por algumas vezes, um busca por contato com a Divindade.
Em seu best-seller “Uma Breve História do Mundo”, Geoffrey Blainey ,relata como figuras expostas em “parques arqueológicos” no mundo inteiro são traços marcantes que apontam para uma relação fundamental entre Homem e Música desde quando aprendemos os primeiros modos de comunicar-se, há milhares de anos. O mesmo pode ser testemunhado ao se ler “A Cidade Antiga”, de Foustel de Coulanges, onde se encontra relatos da imanência da musicalidade entre as primeiras “grandes civilizações ocidentais”.
E não seria necessário discorrer de modo prolixo aqui, falando sobre a Música na Idade Média, entre os Modernos...; pois no fim, o faria para corroborar sobre o mesmo discurso: que existe sim, um critério que demarque, afira, na discussão sobre o famoso “gosto musical”: o chamo de “critério de relevância e significado”. Minha geração é que não percebe isto...!
Não se trata de julgamento de valor moral; antes, de valor estético. Se a Música é, foi, e será sempre uma expressão de determinada cultura; ou se até mesmo “a arte imita a vida”, como já rezava o dito popular, então lamento: coitados serão meus descendentes...! Serão da geração que faz “música” com o traseiro (bunda mesmo...!), que consome lixo técnico, cultural, acima de tudo existencial, sobre o pretexto de ser uma música “diferente”, animada, um barato...! Triste geração: consome lixo como entretenimento, mas que ainda arroga-se disto.
Sim; entretenimento também compõe a musicalidade, sendo uma de suas muitas facetas; mas Música sem o que a originou, estabeleceu-a, legitimou-a como sendo essa “coisa” que tanto nos apela e constrange, não é boa mesmo...! E assim têm sido desde o princípio das eras: o homem pondo na música uma carga de valor afetivo, existencial, o que mais lhe apela individualmente, o que possui uma relevância tamanha que chegue a marcar sua própria cultura e etnia; é desse poder e fascínio da Musa Euterpe (http://pt.wikipedia.org/wiki/Musas) a que me refiro..., a capacidade de mover multidões, unir em torno de algo uma comunidade, expressar e perpetuar nas emoções as dádivas sagradas compartilhadas ali, por todos. Essa é a “Coisa” que ,por mais diferentes que sejam as manifestações culturais e temporais, atravessou toda a nossa História até aqui: essa é a “boa” Música; a que dança em todos os ritmos, mas que transcende, resiste, revoluciona, consola, transcende, humaniza, diviniza....!
Nessa minha consideração inicial está posto o primeiro “mandamento” : a Música têm como destino fatal, desde seu início, a ser significadora entre os homens; cheia de apelo e sedução para o que o exalta ...o glorifica mesmo nas tragédias, Ela é popular, por que é a alma deste povo que extravasa por meio dela, jamais supondo-se “popular” como rebaixadora de nossa grandeza humana. A Música é dádiva dos céus aos homens, é nossa, em toda a sua complexidade matemática, tanto quanto em sua simplicidade existencial; é nossa para engrandecer-nos, e por meio dela expressemos o que possuímos de mais nobre, transformador...; inverter essa ordem é repetir o que se vê em cada esquina: “música” como instrumento de humilhação, vergonha, promiscuidade, devassidão...ou no máximo de “animação”. O resultado é sempre vazio, inócuo, irrelevante, produzindo gente com as mesmas características do lixo que se presta a ouvir.
Vão me chamar de moralista, puritano, e afins...! O que é fato: Música “boa”, faz bem pra saúde; do corpo e da alma...; e isso é de bom gosto. Música “ruim”, “quem tem ouvidos, ouça (ou melhor não...risos)...”; e quem tem olhos veja: não vai precisar andar muito...! Será que é tão complicado assim?

Por Theo Fagundes






















 
Aprendendo a viver à partir
do aprender a morrer: uma meditação
Artigo publicado no Jornal BAHIA HOJE, em 11/08/09 - A Morte: o inevitável caminho de todos os homens!! Parafraseando o grande mestre (Sávio Rosa. Phd.): “nascer é uma probabilidade, viver uma incerteza, morrer, no entanto, é fatalmente determinado”. Sendo “a Morte” o grande evento da vida, _pois é a sua coroação_ pensá-la, discutí-la , confrontá-la, e aceitá-la... é tarefa de todo o ser, dito humano, que dignifique a sua existência: sim, pois é o poder criador e significador do humano que o distingue, dentre os demais seres vivos, o colocando na condição singular e única de pensar a “vida e a morte”, da perspectiva que lhe parecer relevante e dotada de significado..
É aceitando esse status singular _o de sermos os únicos aptos a pensar sobre o inevitável destino de todos, o do encontro com a morte_ que proponho, intermitentemente, fazer dessa aptidão natural, uma experiência marcada pela intencionalidade de imprimir novos valores e significações em nossa existência, passando do meramente determinado e fatalístico, para a percepção do poder transformador, de na vida, dar-se o privilégio de pensar na morte, à fim de que o olhar se mude, e a prática seja ,na vida, prazer, aprendizado, sabedoria, afetividades gratuitas...sim, tudo de mais filosófico possível, quando se entende que o “filosofar sobre” é um “pisar o mesmo caminho de todos os dias com outros olhos... um desvelamento do que até outrora fôra natural”.
Utilitarismo? Pragmatismo? Jamais. Antes é descobrir a relevância do filosofar pisando no chão da existência: é aqui que as coisas se verificam, legitimam, ou desvanecem.
Em um viver cotidianamente frenético _ que é o contemporâneo_ todos correm, mesmo que por caminhos desencontrados, em direção ao mesmo ideal: a felicidade. Cegueira... ilusão...; pois ao se olhar um pouco mais atentamente a constatação da realidade é a da fragilidade, efemeridade da vida. Em sua própria constituição, a vida é passageira, é caravana..., é peregrina errante tendo a morte como companheira, e como fado. A famosa ópera “Carmina Burana” expressa intensamente o elemento trágico dessa nossa peregrinação; pois quem não sentiu _ou quem sabe tenha visto_ a veracidade destas estrofes?. Eis: “Oh destino, és como a Lua, mutável, sempre aumentas e diminuis; ah detestável vida ,ora escurece, e ora clareia; por brincadeira mente;miséria, poder, ela os funde como gelo. A sorte na saúde e virtude agora me é contrária; dá e tira mantendo sempre escravizado.Nesta hora sem demora tange a corda vibrante ; porque a sorte abate o forte,chorais todos comigo!”Morte e vida caminham amigas, e não se dedicar à tarefa de pensar a vida à partir da certeza da morte, é ser condenado à muito mais do que ver a vida passar, mas à “passar junto com a vida”. È garantia de _ se tiver a sorte de envelhecer_ ver sua boca se encher do “provérbio bíblico da sabedoria tardia, o Eclesiastes” : “chegaram os maus dias e não tenho neles contentamento algum”. Já graceja um dito popular americano: “a juventude é desperdiçada no jovem...!” , e essa é a minha preocupação: é com gente que se deixa tolher a fantasticidade de um viver exuberante e cheio de relevância, por estar apegado à questiúnculas , picuinhas mesquinhas, antipatias imotivadas; ou levado por tendências de nossa época, principalmente as de origem midiática. Roubaram-nos o sentido da vida...os valores mais respeitáveis, o gozo da família, a fidelidade na amizade, o valor próprio, o senso de propósito, e uma visão do futuro sem todas aquelas futilidades que sedimentam as ambições de nossa geração. Roubaram-nos a vida quando tiraram de nós a presença e gravidade da morte. Mutilaram-nos _e com nosso próprio consentimento_ quando descaracterizaram o viver diante de nós, arrancando-o seu elemento trágico constitutivo: a reverência diante da vida...e da morte.
Independente de qual seja a crença que predomine (e as crenças têm, cada uma ao seu modo, um horizonte pós-mortem), o que é inadiável é: todos morreremos sim. Se morreremos , então vivamos com urgência; com relevância, alteremos a cadeia de prioridades de nossa existência aqui. Pensemos na vida como quem morre, para que não chegue o dia em que todo o acúmulo de “saber” seja amargo ao paladar de quem ,pra si mesmo, só herdou uma sepultura, e um epitáfio: “...devia ter vivido mais... amado mais...errado mais... ter sido mais feliz”. Se a finalidade da vida é a felicidade, atingi-la sem pensar a morte em seus termos radicais é impossível; (no tocante a mim) a filosofia (e o Evangelho) são os mediadores desse processo, remédio e instrumento na busca da finalidade última da vida. Ser feliz é a busca final, e isso torna o nosso agir no “durante” ,muito, mas muito mesmo, diferente...

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