sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Entrevista: MARCOS BANDEIRA

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Ele é presidente da ALITA – Academia de Letras de Itabuna, é mais conhecido (Popularmente) pelo seu trabalho na justiça, pois é juiz de direito e está atualmente na Vara da Infância e Juventude.
O maior legado que um homem pode ter para todo o sempre é o seu comportamento, a atitude e a singeleza que nos foram dispensadas quando do convite para este bate papo virtual nos encheu de orgulho e forças para garimparmos mais e mais artistas e pessoas do naipe deste nosso convidado. Um homem ocupado, mas que se dignou a nos responder prontamente. Tomara que este exemplo fique e que nós aprendamos com tais atitudes.
O blog ARTISTAS DE ITABUNA tem a honra de conversar com Dr. Marcos Bandeira.

Ser conhecido por outra atividade dificulta propagandear seu lado literato?

Historicamente os grandes escritores brasileiros, como Machado de Assis, Jorge Amado, Raquel de Queiroz sempre exerceram ao longo de suas vidas outras atividades profissionais, mesmo porque é muito difícil, principalmente, em nosso país, onde a cultura ainda não é prioridade, sobreviver exclusivamente de sua arte. Creio que a veia artística, seja na poesia ou na prosa, já nasce com a pessoa e com o decorrer tempo ela é lapidada, aperfeiçoada. Veja o exemplo de Cora Coralina. Não me considero nenhum poeta nem prosador, sou apenas um apreciador da boa poesia, de um bom conto, de uma crônica inteligente e reflexiva, enfim sou um devorador de bons livros. Gosto também da boa música, principalmente MPB. Como escritor publiquei quatro livros na área jurídica com excelente aceitação no mundo acadêmico, haja vista as inúmeras citações deles nas diversas monografias e livros de Direito, como também tenho uma grande quantidade de artigos jurídicos publicados em revistas especializadas, além de crônicas publicadas em jornais e blogs da Bahia. Já tenho algumas incursões na poesia, mas creio que o tempo ainda é de aprendizado e reflexão. Creio que o trabalho já consolidado como Juiz de Direito há mais de 22 anos, dos quais 13 em Itabuna faz com que me torne conhecido como magistrado. O trabalho que desenvolvemos na Vara do Júri e Execuções Penais de Itabuna marcou uma época áurea na Justiça Itabunense, quando realizamos o maior número de júris na história da Comarca de Itabuna, inclusive realizando júris nos bairros onde acontecia o delito. Essa marca, sem dúvida, contribuiu para forjar o perfil de um juiz sisudo e rigoroso na aplicação da lei, totalmente distante do mundo das letras. Hoje, na Vara da Infância e Juventude, lidando com os direitos de crianças e adolescente, acho que essa imagem foi um tanto flexibilizada, e as pessoas já me identificam de forma diferente. No primeiro semestre de 2012 pretendo publicar o meu quinto livro que é uma coletânea de crônicas e artigos jurídicos, além de algumas poesias. O titulo do livro deverá ser “Coisas da Vida e do Direito”, e deverá ser publicado pela Editus.

Além do dom, houve a necessidade da lapidação deste para chegar a excelência na   feitura da arte de escrever. Quais os passos para chegar a este estágio?

Não acho que cheguei a excelência na arte de escrever. Seria uma inominável presunção. Sou ainda um aprendiz na arte de escrever e apreciador de um bom texto. Acredito que o texto melhora com o decorrer do tempo. Vejo isso, quando estou escrevendo um livro ou uma crônica. Várias vezes que procedo a uma revisão, modifico várias vezes o texto até chegar a um formato ideal. Hoje, quando releio o meu primeiro livro que lancei em 1998, vejo que o meu texto atualmente já é bem melhor do que aquele. O tempo se encarrega de aperfeiçoar e amadurecer o escritor. Os passos para chegar a esse aperfeiçoamento são construídos com muita leitura e reflexão, e uma pitada de humildade para reconhecer os nossos próprios erros e limitações.

Quais os escritores da nossa região que influenciaram na forma da sua arte?

Na região, desde garoto sempre li obras de Jorge Amado e Adonias Filho. Terras do Sem Fim, Gabriela Cravo e Canela, Luanda Beira Bahia, Corpo Vivo são obras que mostram a alma da nação grapiúna. Essas obras, sem dúvidas, influenciaram de alguma maneira na minha formação. Tive também a influência de outros escritores e poetas, alguns universais, como Victor Hugo, Saint Exupéry, Machado de Assis, Fernando Pessoa, Raquel de Queiróz, Carlos Drummond de Andrade, Mário Quintana. Gosto muito de obras biográficas, e sempre admirei a vida de Ruy Barbosa, João Mangabeira, Abraham Lincoln, Martin Luther King, Paulo Freire, Nelson Mandela, Milton Santos, João Paulo II, Mahatma Gandhi e tantos outros. A filosofia de Sócrates, Nietzsche e Hannah Arendt também me influenciaram muito, enfim um pouco do legado de cada um acaba incorporando em nosso espírito.

Qual o maior desafio da região: Criar novos escritores ou novos e mais leitores?

Priorizar a cultura em todas as suas manifestações. Itabuna possui uma plêiade de poetas, prosadores e de homens e mulheres das letras. A ALITA será mais um espaço de referência cultural. Itabuna tem uma grande dívida com o escritor Jorge Amado. O nosso grande escritor que nasceu em Ferradas é um dos escritores mais lidos no mundo. Em Portugal, por exemplo, é o escritor estrangeiro mais lido no país. Os turistas estrangeiros e também brasileiros quando visitam Ilhéus procuram sempre conhecer um pouco da vida de Jorge Amado e as únicas referências que encontram estão em Ilhéus. Precisamos construir urgentemente o Museu Jorge Amado em Ferradas. Tenho certeza que este equipamento vai mudar radicalmente os hábitos deste importante bairro de Itabuna. A propósito, recentemente participei do lançamento do filme “Capitães da Areia” do referido escritor e fiquei envergonhado, como cidadão Itabunense. A neta de Jorge Amado e também produtora do referido filme veio a Itabuna pela primeira vez em companhia de alguns atores, no sentido de lançar a película, e como não dispomos de um cinema, a projeção foi improvisada numa telinha colocada no Centro Cultural Adonias Filho. Itabuna, pela sua importância, não pode ficar sem uma sala decente de cinema. Isso também é cultura. Precisamos do alimento não somente para o corpo, mas também para o espírito. A vida já é muito dura, e nada como a arte para ajudar na caminhada.

Sendo o presidente da ALITA, existe projeto para popularização dos escritores regionais ou as cargas serão voltadas para os acadêmicos?

Ainda não posso adiantar nada de concreto. A academia é um colegiado e nossas decisões sempre passam pelo crivo dos acadêmicos. Sou uma pessoa de espírito democrático. Todavia, posso adiantar que pretendemos construir um novo conceito de academia, não mais um círculo hermético e desconectado com a realidade, mas um verdadeiro instrumento de promoção da cultura e sincronizado com os anseios da nossa realidade social e cultural.

Quais são os projetos da ALITA, presentes e futuros?

Nós vamos realizar uma reunião de diretoria nos próximos dias, na qual cada diretor deverá apresentar o seu plano de ação para 2012. Com base nesses planos de ações pretendemos sistematizar e elaborar o nosso calendário de 2012. Pretendemos realizar concursos literários, seminários e incentivar a produção literária, inclusive já temos a nossa revista que se chama “Guriatã”, que deverá publicar trabalhos não só dos acadêmicos, mas de outros escritores da região. Todavia, precisamos do incentivo da sociedade e do poder público. Somente agora conseguimos a nossa sede provisória que fica no Edifício Dilson Cordier, mas a ALITA veio para ficar permanentemente no seio da cultura Itabunense. Nós acadêmicos um dia passaremos, mas a instituição é para sempre. Por isso, precisamos do apoio da sociedade e do Poder Público constituído.

Deixe uma mensagem aos artistas de nossa região.

Quero dizer aos artistas da região que estamos abertos ao diálogo, e que podemos juntos pensar e contribuir para a construção da cultura da nação grapiúna. Tenho um grande respeito pelo Clube dos Poetas, e também pelos escritores e músicos grapiúnas. Podem ter certeza que a ALITA será uma grande parceira nesse processo de promoção e difusão da cultura.

3 comentários:

Jaffet Ornellas disse...

Dr. Marcos Bandeira é um apreciador da nossa arte - sou testemunha disso - e sei que será um excelente gestor à frente da Academia de Letras de Itabuna.
A ACATE-Associação Cultural Amigos do Teatro deu o primeiro passo em relação ao reconhecimento de Jorge Amado como itabunense, homenageando-o com a construção do GALPÃO CULTURAL JORGE AMADO, em Ferradas, no local onde era a casa que o escritor viveu alguns anos, em parceria com a CODEC e a Prefeitura Municipal.
O que precisamos é reUNIR exatamente pessoas como Dr. Marcos e muitos outros que fomentam a vontade de fazer valer a nossa Cultura Artística.

EGLÊ S. MACHADO disse...

Caros amigos fiquei muito satisfeita com a entrevista que o caríssimo Dr. Bandeira concedeu ao blog Artistas de Itabuna, por isso mesmo fiz questão de transcrevê-la na íntegra no nosso site social ITABUNA CENTENÁRIA (R/SIC), claro com os devidos créditos.
O Dr. Bandeira é um homem muito respeitado e amado aqui na cidade e tenho certeza que na ALITA fará um grande trabalho em favor da cultura e arte da região grapiúna. Amei quando ele disse que tem um grande respeito pelo CLUBE DOS POETAS.

ARTISTAS DE ITABUNA disse...

Agradecemos o carinho e aproveitamos para deixar o convite expresso para que também participe de nosso blog, inclusive divulgando o seu blog, que é de grande valhia par a cultura grapiúna.
Além do nosso blog, nossa webradio AMBIENTE VIRTUAL e o nosso programa na radio NACIONAL AM (PALCO LIVRE) estão a vossa disposição.
73 8866 2111