domingo, 15 de janeiro de 2012

RESENHA SOBRE O ESPETÁCULO DE DANÇA DE CORPO E ALMA: MARCELA CARVALHO.


O meu propósito nesse momento é mostrar-lhes a minha visão pessoal do que fora o espetáculo DE CORPO E ALMA, idealizado e produzido por Marcela Braitt Carvalho e equipe, ocorrido nos dias 17/12 e 18/12/2011 no Centro de Cultura Adonias Filho em Itabuna-BA.

Vamos ao espetáculo?

Convém ressaltar, o fino gosto com que fora feito a abertura do festival com a introdução poética de:

A Dança e Alma

“A dança? Não é movimento

Súbito gesto musical

É concentração, num momento,

Da humana graça natural.

No solo não, no éter pairamos,

Nele amaríamos ficar.

A dança-não vento nos ramos

Seiva, força, perene estar

Um estar entre céu e chão

Novo domínio conquistado,

Onde busque nossa paixão

Libertar-se por todo lado...

Onde a alma possa descrever

Suas mais divinas parábolas

Sem fugir a forma do ser

Por sobre o mistério das fábulas.”

Carlos Drummond de Andrade.

     Interessante é observar as peculiaridades dos últimos festivais que eu

tenho presenciado. Cada festival apresenta o que há de melhor da personalidade de sua idealizadora e, o festival promovido por Marcela Carvalho não poderia ser diferente. Com isso, eu percebi de imediato a sua irreverência. Tudo é questão de estilo, sobretudo quando o clássico veio a ceder o seu posto de preferência pelo estilo mais moderno e contemporâneo, não que o clássico tenha sido negligenciado, pelo contrário, mas a predominância dos outros estilos foi o que marcaram mais presença em palco.

    Eu acredito que o propósito de Marcela Carvalho fora nos apresentar os diversos sentimentos inerentes ao ser humano e que nos caracterizam como tais. E muitos foram os adjetivos apresentados na poesia da dança. Não poderei citar todos, mas faço questão de comentar sobre os que mais me impressionaram.

Durante a abertura adentraram no espaço, e estavam elas bem pertinho do público um grupo de bailarinas que pareciam “marinheiras” naqueles trajes, mostrando seu bailado com a alegria de quem estão simplesmente nos dando: Boas Vindas. E como eu sorri para essas meninas.

A seguir, eis que os meus olhos se impressionaram demasiadamente com a encenação dançante de: O Corpo e a Alma, um dueto que representou brilhantemente que é ledo engano, pensar que ao nos expressarmos através da dança, apenas nosso físico se movimenta; a nossa alma dança com igual intensidade, mas a depender de quem se apresenta e de como se expressa, a alma transcende ao físico e o que é apresentado se torna algo inexplicável, simplesmente sentido com as nossas emoções e cadê as palavras? Elas somem diante de tamanha perplexidade.

Foi com essa impressão de perplexidade que eu fiquei ao ver pela primeira vez em palco, o menino Pedrinho, muito se fala desse bailarino que o Teatro Bolshói já o enxergou e que ao tudo indica, ele irá brilhar por outras paragens, em minha opinião, ele já está brilhando e muito. Impressionei-me com todo aquele classicismo daquele bailarino esguio, com seus saltos e giros perfeitos e suas pontas dos pés... Ah! Suas pontas dos pés fora algo que eu nunca vi nada igual, talvez tenha sido por isso que eu tenha fixado o meu olhar sobre aquelas pontas dos pés que, sinceramente, eu não tenho palavras para descrevê-las de tão intrigantes que são as pontas dos pés daquele bailarino.

E para o meu delírio, eis que se apresentam as miruxitas como bailarinas espanholas, é lindíssimo a fusão do ballet ao som das castanholas e de tudo que nos remete a Espanha: - Olé! Meu sangue sevilhano ferveu com essa apresentação.

Logo após, em forma de paixão, apresentou-se em duo contemporâneo o casal de bailarinos que se ora se abraçavam, ora se largavam. A paixão tem dessas convulsões emocionais, nada mais justo que a dança a represente dessa maneira: Fogo ardente de sentimentos encontrados e desencontrados.

Com a temática raízes fora nos apresentado em palco o resgate da Africanidade, não só nas expressões daqueles corpos, mas também na sonoridade e tudo refletia a baianidade nagô, característico de nossas reminiscências, que por alguns são renegadas e por tantos outros, estampada de maneira orgulhosa. Em seguida, presenciamos o solo do ballet clássico com a temática fantasia e assim eu me senti imersa em minha fantasia “infantil” por vezes frustrada, por não ter tido as minhas sapatilhas.

     Fora de maneira glamorosa que as miruxitas adentraram no palco, nos apresentando o melhor do sapateado, dançando um clássico: a música New York de Frank Sinatra, na voz de uma cantora que eu não sei o nome, mas que tem em sua voz, o que há de melhor do soul. Fica aqui o meu registro.

    E o que pensar sobre a apresentação do duo contemporâneo adulto com a temática experiência apresentado por Marcela Carvalho em parceria com outro bailarino? A meu ver fora uma apresentação “shakespeariana” e quando eles se abraçaram no final, eu pensei: Seriam Romeu e Julieta se despedindo tristemente? Ou seria a sublimidade orgástica após o abraço sentido e o falecimento de seus corpos no palco? E tudo isso fora apenas uma representação dançante de suas artes e uma interpretação pessoal do meu olhar apaixonado pela dança.

    E um dos momentos de muita alegria foi quando um grupo de menininhas, todas elas em trajes coloridos, de cores bem vibrantes, presentearam a mim e aos expectadores toda a festividade contagiante da dança indiana. E suas mãozinhas, braços, gestos e bailados tinha muito significado com os mudras indianos ensaiados e apresentados.

    Entretanto, o meu grande momento de reflexão se deu com a participação de um grupo convidado, que com a temática bem sugestiva sonho de criança que nos apresentou o street dance.

É impressionante o que é a riqueza de uma arte.

Aqueles jovens já começaram a sua apresentação remetendo-me as lembranças da chacina da Candelária e quem não se lembra desse fato altamente noticiado pelo Brasil e mundo afora? Ou seria uma representação artística do massacre do Realengo?  Interpretações variadas da minha mente aguçada. Eu me lembro da repercussão jornalística, na qual outras crianças com suas vidas completamente diferentes da minha foram exterminadas por algozes ensandecidos. Pobres crianças que tiveram seus sonhos interrompidos. E quantos são os sonhos das crianças que são roubados por aí? E quem são os culpados? A nossa fina sociedade do simulacro.

O meu propósito em discorrer sobre o festival de dança De Corpo e Alma deveu-se, também, ao fato de poder apresentar aos meus leitores o trabalho de inclusão social e cultural desenvolvido por Marcela Carvalho. Sendo assim, no arregaço de suas ancas, ela abraça essas crianças e jovens, mostrando-lhes novos horizontes ao lhes proporcionarem chances de metamorfosearem suas almas e cabeças e, de lutarem para transformarem as suas condições de vida e sobreviver. Por isso, o seu nome e sua personalidade tornaram-se para mim digna de nota. Pergunto-lhes: - Que perspectivas teriam esses jovens abandonados pelo Estado e com seus direitos esmagados?

     Provavelmente seriam os marginalizados!

Seriam os menores em situação de estado de risco provocando um medo medonho na sociedade.

Com este trabalho lindíssimo, busca-se através da arte oferecer a esses jovens novas oportunidades. Com isso a professora e coreógrafa Marcela Carvalho converteu-se em mãe zelosa ao adotar e apresentar o mundo artístico a Marias e Josés ninguém, transformando-os em alguém. Meninos e meninas, adolescentes transformados em atores sociais reconhecidos e identificados como tais. Somado a esses aspectos, percebemos a importância de projetos como esses em comunidades necessitadas desse apoio.

Uma vez que as ações estatais teimam em negligenciar o suprimento dos estados de carências socioeconômicas que impedem o desenvolvimento dessas comunidades, faz e muito a diferença, algumas ações individualizadas de algumas pessoas que eu as chamo de: Desbravadores e facilitadores sociais ao atuarem com suas habilidades profissionais, intelectuais e artísticas no intuito na promoção e inserção de outros indivíduos.

Eu sinto um enorme pesar, se alguns de nossos representantes não se importam com a legislação contida no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), a Constituição e os Direitos Humanos e, se suas ações não correspondem com as suas promessas. Com o tamanho desvio de verbas públicas - estamos em situação de calamidade pública – Ôh lástima e que vergonha para a minha dignidade humana!

Concluindo o meu pensamento, permitindo-me sair do estado de absurdez para o estado lúdico e feliz que essa arte me proporciona, eu acredito que para ser uma bailarina (o) transcendental em sua arte e poesia corporal tem que, realmente, dançar: DE CORPO E ALMA.

Clap, clap, clap, clap, clap, clap, clap, clap!


By: Bruxinha Sevilhana.

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